A quem servir

Por João Gabriel Nani, Tiago Vieira Rangel, Pedro José de Carvalho, Gabriel Koritzky, Osmar Lopes e João Victor Câmara


São cinco da manhã, o relógio desperta. A cidade de Mariana ainda está adormecida, os pássaros mal começaram a cantar, e o crepúsculo ainda sombreia a pouca luz que toca o chão. Entretanto para Bruno, é hora de acordar. Com o despertar do relógio surge a noção de que o dia começou. O corpo parece não acreditar. Os pés descalços tocam o chão gelado, e logo de modo mecânico Bruno se dirige ao lavatório. A roupa ainda tomada pelo pó logo possui seu corpo como objeto, e após tomar um “gole” de café amargo, à labuta lá vai ele...

A cidade de Mariana, juntamente com seus distritos possui cerca de 54.200 habitantes, segundo último censo realizado pelo IBGE. E uma pequena faixa desta população, porém considerável, não come em casa. Os restaurantes são o local onde esta mesma faixa se alimenta diariamente, levando em conta critérios usuais, localidade, preço e cardápio. Por se tratar de uma cidade turística as opções não são poucas. Espalhados em sua maioria pelo centro da cidade, os 10 principais restaurantes chegam cotidianamente a receber cerca de 130 clientes dia cada, servindo, em média, 53 quilos de comida.


Vista da cidade. Foto: Reges Schwaab


... Saco nas costas, poeira pra todos os lados. A marreta se confronta com as pedras que logo formarão uma parede. Bruno analisa  vigas, mede as estruturas com os olhos e já as projeta de pé. Neto de pedreiro, profissão a qual o pai também exercia, não teria nenhuma perspectiva a não esta. Não sonhava, não podia. Só pensava em mexer o cimento e no almoço que não tardava. O relógio já marcava 11, e a fome se conforta a medida que Bruno se dirige para o restaurante...

Com tanto movimento, a rotina dos proprietários e dos funcionários não é fácil. Os vegetais que necessariamente são servidos frescos, batem à porta às 6h da manhã. As panelas para o feijão, logo após já vão ao fogo. Fornecedores com as demais mercadorias também já vão chegando. É bem cedo, mas a cozinha  funciona a todo vapor. Em geral, as mercadorias industrializadas são compradas quinzenalmente das empresas situadas na zona metropolitana de Belo Horizonte, com exceção das iguarias, que chegam dos quatro cantos do país.

... Ao sentar-se à mesa, com apenas um aceno a garçonete já sabe o que Bruno quer; o de sempre. Poucos minutos, que duraram horas levando em conta sua fome, o prato chega à mesa. Arroz e feijão, cobertos por um ovo frito figuram no prato. Ao lado, em uma vasilha separada a salada - alface, tomate e beterraba -. Em outro prato, o mais esperado, um filé, alcunhado de “Bife” que ocupa o prato inteiro. Os olhos de Bruno também salivam junto com sua boca...

Ao passo que os restaurantes da cidade buscam se diferenciar para conquistar maior freguesia, todos partem do pressuposto que servem “comida mineira”. O estereotipo de comida mineira vêm desde a época dos tropeiros. Comida “gorda” com fartura da carne de porco e também de grãos, além dos vegetais típicos da região.  Feijão tropeiro, couve, costelinha, frango cozido com quiabo, angu, dentre outros são os protagonistas . No dia a dia, Porém, os estabelecimentos acabam optando por servir o trivial, arroz, feijão, carne e salada, com exceção dos restaurantes com o foco para público turístico, com os pratos tipicamente regionais.

... Já farto, Bruno levanta, dirigindo-se ao caixa. R$ 7,00 pelo prato e mais R$ 0, 50 pela dose de cachaça. Logo toma as ruas, em direção a casa que está a construir. Andando pela calçada, Bruno só pensa que o cimento precisa de mais água, que o andaime está frouxo e que a brita está acabando. Do almoço, nem se lembra. Ao dobrar da esquina, atentamente Bruno olha um restaurante, olha porque ele reformou. Olha porque conhece cara ranhura da parede.  Bruno nunca comeu lá, sequer pensou em comer. O preço de uma refeição equivale quase a seu dia de trabalho. Mas Bruno não se prende muito, logo volta ao cimento...

O preço dos restaurantes marianenses varia. Nos voltados para o turismo, o quilo da comida custa em média R$ 24,90, e os pratos à la carte variam de R$ 30,00 a R$ 60,00, e servem de duas a três pessoas. Nos restaurantes populares, o famoso PF (prato feito) varia de R$ 6,00 a R$ 9,00, e é servido individualmente. Apesar de voltados para o turismo, determinados restaurantes também servem a uma clientela “nativa” que possui maior poder aquisitivo, enquanto os populares se focam mais a servir estudantes,  operários, classe média e classe média baixa.

... Chegando a obra, logo Bruno já se põe a trabalhar. Sol forte, chuva fina, sol forte. Passa o dia, o relógio já denuncia a hora de parar. Como na canção de Chico Buarque, Bruno olhou a parede construída como mágica, olhou como se fosse a última. Juntou seu embornal e foi para a casa. Banhou-se, alimentou-se e deitou-se, já pensando no dia seguinte...

Em sua maioria, os restaurantes da cidade não costumam a servir jantar. Os que possuem o costume, servem somente pratos a la carte, pizzas, tortas ou petiscos. Comer na cidade de Mariana, não é uma tarefa difícil. A boa comida e os ambientes agradam tanto a turistas quanto  “nativos”, sem contar que a variedade de opções  de cardápio como de preço é bastante sedutora. Em Mariana, mineiro come quieto por que saboreia a comida.

... São cinco da manhã, o relógio desperta...


Grupo 2: Edição de texto: João Gabriel Nani. Entrevista: João Victor Câmara, Osmar Lopes Neto e Pedro José de Carvalho. Checagem: Gabriel Koritzky. Making Off: Tiago Vieira Rangel.

Confira o making off da matéria (em breve).

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